Fernando Lopes
Especial para A Comarca
Do vinil à fita cassete, do CD ao Spotify, o que antes só se ouvia se houvesse uma vitrola e o disco desejado, hoje está a poucos cliques de distância. Em pleno século XXI basta um celular e uma conexão com a internet e em segundos o som desejado estará tocando, mas ainda há pessoas que preferem ouvir suas músicas do jeito antigo, e o número de amantes e colecionadores de discos de vinil vem aumentando a cada dia.
A praticidade das mídias digitais e dos CDs são atraentes desde o início dos anos 90, mas a qualidade sonora e as artes de capa estão alavancando novamente a popularidade dos velhos e bons LPs. As chamadas bolachas estão aos poucos retornando às prateleiras das lojas e sites de venda online. Essa volta pode ser dada pelas tendências atuais, que vem resgatando e recriando peças roupas e itens usados entre os anos 1960 e 1980, conhecida como moda retrô ou vintage.
O vinil não ficou de fora da nova moda: regravações de antigos clássicos e álbuns atuais sendo importados para o LP estão cada vez mais comuns. Com o acesso à internet, a facilidade de adquirir um álbum de décadas atrás se tornou muito maior. Essa praticidade fez com que muitos colecionadores veteranos conseguissem itens muito sonhados há tempos, permitindo ainda que novos colecionadores começassem.
Avareenses falam sobre suas relações com o disco de vinil
Em Avaré, existem pessoas que são apaixonadas pelo som do vinil e não abrem mão de ouvir música em um toca discos. O músico e empresário Darcio Bortoloso Júnior, proprietário da Acervo Sebo e Livraria – Rua Mato Grosso 1361, é um desses aficionados pelos LPs. “Acho que nunca me liguei nesse lance de que o som do vinil é mais grave, melhor ou coisa do tipo em relação ao CD. Gosto do vinil, pois vivi a época, era um prazer enorme ir na loja e escolher um LP dentre tantos que eu desejava. A coisa muda de figura quando o assunto é parte gráfica. Muitos LPs tinham capas duplas, triplas, abriam até em 6 partes, livretos, encartes, vinham até em caixas, tinham formatos diferentes. Coisas que o CD nunca pode trazer. E acho que o grande lance é que colocar um vinil no toca disco para ouvir é quase como um ritual. O lance de você pegá-lo na estante, tirá-lo da capa, colocá-lo no prato, ter que trocar o lado do disco, isso não tem preço. E, claro, se acompanhado de um cervejinha trincando melhor ainda”, disse.
O professor de literatura brasileira e músico Ricardo Câmara, proprietário do estúdio de gravações Paiol do Som, falou sobre sua relação com o vinil: “Eu sou fã de vinil porque é vinil. Na verdade eu não fico entrando muito nessas discussões se o som do CD é melhor, se o som do vinil é melhor. Eu gosto do vinil, sempre gostei do vinil porque ele é palpável. Você toca, abre a capa, você vê o encarte. Ah, mas o CD também tem encarte, não, é pequenininho, então não é legal. O vinil é interessante por causa disso, acho muito legal você andar com ele embaixo do braço. Sempre achei isso muito fascinante. É lógico que eu gosto mais do som do vinil, até porque depois do meio dos anos 80 para frente começou aquela guerra de volume e isso no CD foi levado ao exagero. Você pega um disco do Metallica, do Nirvana, esses caras socam o compressor em tudo, achata tudo o som, eu não gosto. Eu gosto de ouvir o vinil porque tem um som muito mais balanceado, a dinâmica da música é muito mais legal. Até pelo fato da gravação, não pelo chiado que tem um sonzinho característico, não, porque o vinil antes da guerra dos volumes fez parte desse som balanceado. Eu não tenho vergonha de falar não, odeio Metallica, os caras socam o som lá em cima, achata tudo, comprime tudo, fica um volume muito alto, então eu não gosto. Isso me lembra muito o CD, o CD faz isso, dá aquela sensação de que o volume está muito alto e na verdade está tudo muito comprimido, tudo muito amassado e no vinil o cuidado sempre foi outro até mesmo pelo processo de gravação. Mas o legal mesmo é porque a capa dele é gostosa, ele é grande, ele é visível, ele é palpável, adoro andar com ele embaixo do braço. E tenho bastante vinil até, nem tanto o quanto eu queria, mas eu tenho bastante. Mil vezes um vinilzão antigo do Ney Matogrosso, com muita dinâmica, com seus altos e baixos. Um Antônio Carlos &Jocaf. Ah, mas você não é roqueiro? Sou, mas eu gosto de ouvir tudo quanto é tipo de música, principalmente de for no vinil”.
O pintor de letreiros Marcos Rogério Paes, na hora de ouvir música, é outro que não dispensa o vinil. Para ele “o som é mais puro, além das capas que são maravilhosas. No meu caso curto muito rock androll progressivo, hard e metal, enfim, o vinil é mais colecionável e de capas bem bacanas”.
Ricardo Câmara: “Gosto de ouvir o vinil porque tem um som muito mais balanceado”
DarcioBortoloso: “Colocar um vinil no toca disco para ouvir é quase como um ritual”
Marcos Paes: “O som é mais puro, além das capas que são maravilhosas”