AcontecendoFamiliares culpam equipe médica do PS por morte de idosa

A Comarca10 de dezembro de 201410 min

Familiares culpam equipe médica do PS por morte de idosa

Família de M.M.C. afirma que a paciente foi atendida por uma pediatra e liberada sem ter passado por um especialista

Da Redação

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Inconformados. Assim se definem os familiares de M.M.C., de 78 anos, que faleceu na madrugada de sexta-feira, 28 de novembro, logo após ser liberada do Pronto Socorro (PS) de Avaré. De acordo com a filha da vítima Maura Aparecida Leite e o genro José Luiz dos Santos, a morte da idosa foi causada pelo descaso da equipe médica da unidade de saúde.

Em entrevista à Comarca, o casal afirma que M.M.C foi levada até o PS por volta da 1 hora da manhã apresentando sintomas de fraqueza, dor nas costas e falta de ar. No local, ela foi atendida por uma pediatra que estava de plantão. “Só havia minha mãe e uma criança. Mesmo assim ela teve que esperar mais de 35 ou 40 minutos para ser atendida. Além disso, não havia um cardiologista ou um clínico geral”, afirma Maura.

De acordo com os familiares, a médica teria receitado uma vitamina de complexo B, além de cinco gotas de Rivotril (clonazepam), medicamento utilizado para combater transtornos de humor, ansiedade e crises epiléticas.

A filha da idosa revelou ainda que, como de costume, levou a receita do medicamento utilizado pela mãe para mostrar à médica, pedindo para que outro especialista fosse chamado. No entanto, a pediatra que realizou o atendimento não teria acionado um cardiologista ou mesmo um clínico-geral, liberando a paciente por volta das 3:20 da manhã.

Maura ainda afirma que a médica plantonista teria sugerido que a idosa fosse encaminhada ao médico que realiza seu acompanhamento no dia seguinte. “Se ela viu que minha mãe precisava passar pelo médico no outro dia, por que a liberou? Por que não a manteve em observação?”, questiona.

Ainda segundo o relato dos familiares, assim que chegou em casa, M. apresentou uma melhora aparente, mas minutos depois teve uma crise e desmaiou. O Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) foi chamado e a equipe tentou reanimar a paciente, que foi novamente levada ao Pronto Socorro, falecendo por volta das 4:15. “Quando chegamos ao PS, a médica disse “infelizmente não deu tempo”. Se minha mãe estivesse lá, talvez tivesse dado tempo”, diz a filha.

Os dados presentes na declaração de óbito também são contestados pela família. “Consta morte súbita. Como pode ser morte súbita se minha mãe passou pelo Pronto Socorro? Eles sabiam que ela apresentava sintomas de alguma coisa, talvez até de infarto”. A declaração ainda destaca como a causa da morte “parada cardíaca, miocardioesclerose (degeneração do coração), obesidade mórbida e senilidade (idade avançada)”.

Indignados com o ocorrido, a família fez um Boletim de Ocorrência e afirma que levará o caso ao Ministério Público. “Não queremos indenização, queremos apenas que eles respondam pelo que ocorreu”, declarou José Luiz.

JUSTIÇA – O genro argumenta ainda que a motivação da família para levar o caso à Justiça é impedir que outras mortes sejam causadas devido à suposta falta de atendimento adequado na unidade. “Se ela tivesse recebido toda a atenção possível, se tivesse passado por um médico especialista, mesmo assim ela poderia ter morrido, mas nós teríamos visto que a equipe médica do PS teria feito tudo para salvá-la. Mas isso não aconteceu. Queremos que nossa dor sirva de exemplo para impedir que outras famílias sofram o que estamos sofrendo”, finaliza José Luiz.

Os familiares também fizeram questão de frisar que a indignação não se estende à equipe de Enfermagem do Pronto Socorro de Avaré.

REPERCUSSÃO NA CÂMARA – O caso foi comentado pelo vereador Denilson Ziroldo durante a sessão realizada na segunda-feira, 1º de dezembro. “No momento em que uma senhora de idade estava praticamente enfartando, quem estava lá (no Pronto Socorro) para atender era uma pediatra. Será que vamos aceitar isso em um próximo convênio?”, questionou.

OUTRO LADO – A Comarca entrou em contato com o médico Cláudio Albuquerque, do Grupo de Apoio à Medicina Preventiva e à Saúde Pública (Gamp), responsável pela gestão do Pronto Socorro.

Por telefone, ele afirmou que avaliou a ficha do caso e concluiu que os procedimentos tomados foram corretos. Porém, a única coisa que não estaria “100% correta” é a assinatura de alta da paciente, que não teria sido feita pela médica, mas sim por uma enfermeira.

Com relação ao não atendimento de M. por um especialista, Albuquerque afirma que o contrato da Prefeitura com a Gamp não prevê retaguarda de cardiologista.

O médico disse ainda que estavam presentes no Pronto Socorro de Avaré três médicos, sendo dois clínicos e a pediatra que atendeu a paciente. Segundo suas informações, a idosa não foi atendida por um clínico-geral pelo fato de que, após 1 hora da manhã, os plantonistas fazem uma espécie de revezamento dentro do PS.

Foi destacado pelo representante da Gamp que não haveria problema no fato de uma pediatra ter atendido a idosa, visto que todo médico especialista também tem formação como clínico-geral.

Cláudio Albuquerque frisou, porém, que suas alegações não se tratam do posicionamento oficial da empresa, e que o setor jurídico da Gamp enviaria uma nota oficial à Comarca. Até o fechamento desta edição, porém, a nota não foi encaminhada.

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