À Beatriz, com amor
Menina com paralisia cerebral é símbolo de solidariedade e compaixão entre os avareenses
Criança faleceu no último dia 6, após lutar contra a paralisia cerebral e ter sido símbolo de uma corrente de doações
Natália Lemos
Especial para A Comarca
Foi em meio a uma chuva fina, típica do mês de janeiro, que a pequena Beatriz partiu. Os suaves toques de garoa que desciam do céu acompanhavam o ritmo das lágrimas que molhavam o rosto de todos aqueles que se despediam de um anjo que retornava aos céus.
Beatriz foi notícia nas páginas do Jornal A Comarca em janeiro de 2017. Foi através das redes sociais que a equipe do jornal chegou até a menina que, na época, apenas com 4 anos de idade, era sinônimo de solidariedade e compaixão entre os avareenses e moradores da região. Beatriz sofria de paralisia cerebral e, por conta das inúmeras limitações, necessitava de doações para realizar suas atividades e continuar sua luta constante pela vida.
No último sábado, 6, coincidentemente no mês em que completa 1 ano da reportagem publicada pela Comarca, Beatriz partiu, de uma maneira serena e doce, como quem cumpriu sua missão e agora descansa em paz.
LUTO – “Ela morreu dormindo. Ficamos assistindo televisão até duas da manhã, coloquei ela no berço e me deitei, quando acordei ela já não estava mais entre nós. Beatriz nunca gostou muito de colo, nos últimos dias não queria sair do meu…de certa forma, ela já sabia que ia partir”, afirma a mãe, Solange de Souza.
Para quem não teria sequer uma semana de vida, os quase cinco anos vividos pela pequena Beatriz, reforçam o cumprimento de uma missão e a luta incansável de uma mãe pela vida da filha.
“Quando ela nasceu ficou 3 meses na UTI, foi desenganada pelos médicos e teve 5 paradas respiratórias logo no primeiro dia de vida. Além da paralisia cerebral, Beatriz possuía lábio leporino e fenda palatina, que a impediam de respirar e se alimentar sem a ajuda de aparelhos. Ela foi uma guerreira”, relatou Solange.
Ela agora busca conforto para conviver com a saudade da filha: “Meu coração está destruído. Enquanto existiu vida, existiu luta também. Para quem não aguentaria uma semana, durante os quase 5 anos, ela lutou a cada minuto e nos ensinou que o amor é dito pelo olhar. Sem dizer uma única palavra ela conseguiu ser luz através da dor e eu entendia tudo o que ela dizia com os olhos. Lutou bravamente pela vida, eu tenho muito orgulho da minha Beatriz”, concluiu.
A MISSÃO CONTINUA – Ainda que já não esteja mais entre nós fisicamente, a passagem da pequena Beatriz nessa vida terrestre despertou um dos sentimentos mais bonitos e gratificantes de amor ao próximo, que é a solidariedade. Com diversas dificuldades e necessidades especiais, Beatriz contou a ajuda de pessoas de bom coração e que mesmo sem a conhecer enviavam doações.
“Se não fossem as doações recebidas, ela não teria chegado onde chegou. Aprendi nesse tempo que dinheiro não é tudo nessa vida e o que vale mesmo são as boas ações que a gente pratica. Para muitos podia parecer pouco, mas para nós, tudo que recebemos, foi muito além de doação, foi um ato de amor ao próximo”.
Em um gesto de gratidão e continuidade da missão que a filha deixou, Solange decidiu doar os pertences de Beatriz para outras crianças e famílias em situação de necessidade. “Todo apoio que nós recebemos durante esses anos foi fundamental para saúde dela e nada mais justo que retribuir essa solidariedade de alguma forma”.
HOMENAGEM – Para primeira edição da Comarca de 2018, a nossa lembrança, respeito e admiração pela pequena Beatriz, que faleceu deixando um grande legado e uma linda história de quem teve sede de viver.
Beatriz trouxe luz ao mundo de muita gente, ainda que tão nova ela foi exemplo de força e superação, ela foi o que tinha que ser – e foi linda. Ainda que não tenha tocado seus pés no chão, caminhado sozinha e que não tenha ecoado sua voz para o mundo ouvir, Beatriz deixou por aqui uma história marcante e grandiosa de quem soube viver o amor através do olhar e do sorriso.
Que sua sensibilidade e pureza, continue tocando o coração de inúmeras pessoas, transformando dor em compaixão e nos fazendo acreditar que a solidariedade pode sim mudar o mundo.