“Ficam criados ginásios oficiais em Avaré, Faxina, São José do Rio Pardo e Sorocaba”. Assim estabelecia o artigo 1º do Decreto nº 6.691, assinado pelo interventor federal Armando de Salles Oliveira e publicado no Diário Oficial do Estado no dia 22 de setembro de 1934. Esta é, digamos, a certidão de nascimento da primeira escola pública de ensino secundário de Avaré, fruto da política educacional na Era Vargas, quando o país atravessava por um ciclo de mudanças políticas, econômicas e sociais.
A abertura do Ginásio do Estado foi tarefa complexa. João Baptista Cruz, líder republicano e um dos barões do café na região, fez gestões apoiadas pelo advogado Cory Gomes de Amorim, dirigente maçônico e deputado constituinte. Ambos tiveram papel decisivo para que Avaré tivesse um colégio público com qualificado ensino da Língua Portuguesa e das Ciências Físicas e Naturais. Eles viam na educação secundária a mola propulsora para o desenvolvimento da cidade, onde o analfabetismo campeava.
O governo paulista, contudo, carecia de dinheiro para construir novos prédios, o que dificultava a implantação de novos cursos. Com efeito, o ginásio de Avaré só teve a sua abertura viabilizada pela cessão do prédio da Loja Maçônica Nazareth. Outro apoio decisivo: o de profissionais liberais que se disponibilizaram a lecionar de graça até que houvesse a admissão de professores por concurso público.
Nesse período as escolas oficiais eram instaladas com auxilio das municipalidades, evitando gastos para o Estado. As prefeituras se viam forçadas a colaborar se quisessem acompanhar o progresso da educação. Tanto que entre 1930 e 1935, 22 ginásios oficiais foram então criados no interior e a princípio a manutenção coube aos diferentes municípios, incluindo o de Avaré.
Apesar de abertos para expandir o ensino secundário em São Paulo, os ginásios não ofereciam vagas suficientes para matricular a grande demanda. Muitos adolescentes ficaram fora da escola, sendo a maioria desses indivíduos provenientes das camadas pobres. O dado leva a observar que o ensino continuava elitista na década de 1930, pois o seu conteúdo ainda não cobria todas as classes sociais.
AVANÇOS – Em 10 de maio de 1946, no fim do Estado Novo, por decreto, o interventor federal José Carlos de Macedo Soares deu a denominação de “Cel. João Cruz” ao Ginásio Estadual de Avaré. Nessa mesma época o prefeito João Telles de Menezes adquiriu e reservou a área para a construção de prédio próprio, o que ocorreria em 1962, na gestão do professor Carvalho Pinto como governador.
Lei promulgada em 1950 pelo governador Adhemar de Barros criou a Escola Normal no Ginásio Estadual “Cel. João Cruz”. Sete anos depois o governador Jânio Quadros transformou-a em Instituto de Educação, sede dos cursos de Pré-Primário, Primário, Ginasial, Formação, Aperfeiçoamento e Especialização de Professores e Administradores Escolares.
Hoje, a Escola Estadual “Cel. João Cruz” tem cerca de 1.080 alunos matriculados e se define como uma instituição de ensino público que busca cumprir os objetivos da Educação Básica-Ensino Fundamental-Ciclo II (5ª/6º ano à 8ª/9º ano) e Ensino Médio, EJA e Centro de Línguas.
A unidade, segundo descreve a Diretoria de Ensino de Avaré, “tem por missão e compromisso assegurar aos seus alunos um ensino de qualidade, garantindo acesso, permanência e continuidade de estudos com sucesso, bem como a sua inclusão social, pois se empenha na formação de cidadãos críticos, participantes e capazes de agir na transformação da sociedade em que vivem”.
* Gesiel Júnior
Especial para A Comarca
* Gesiel Júnior, 60, ex-aluno da E.E. Cel. João Cruz, cronista e pesquisador, membro da Academia Botucatuense de Letras e da Academia Sorocabana de Letras, é autor de 52 livros sobre a história de Avaré e região.
Ao centro, o patrono Cel. João Cruz; à esq., o antigo prédio da escola na Rua Rio de Janeiro e a primeira cerimônia de formatura, em 1938. À dir., os primeiros professores e o prédio atual, na Avenida Prefeito Paulo Novaes