Gesiel Junior
Especial para A Comarca
Em Avaré o nome Lineu Prestes é conhecido apenas por dar nome a uma importante via marginal na divisa com a Zona Sul e nas imediações da ferrovia. Porém, os conterrâneos quase nada sabem a respeito da impressionante trajetória acadêmica e política desse avareense nascido no dia 30 de setembro de 1897.
Mudou-se ainda menino com os pais Ana e João Prestes de Morais para a capital do Estado. Aluno do Ginásio Macedo Soares, o jovem de família humilde formou-se em 1916 pela Escola de Farmácia e Odontologia de São Paulo e iniciou sua carreira no Instituto Osvaldo Cruz, no Rio de Janeiro, então Distrito Federal.
Em 1928, muito estudioso, Lineu graduou-se em Direito nas Arcadas, quando ingressou no magistério superior como assistente de química e biologia na Escola de Farmácia e Odontologia, função exercida até 1934, quando foi criada a Universidade de São Paulo (USP). Simultaneamente, ele cursou a Faculdade de Filosofia de São Bento e a concluiu em 1932.
Por 25 anos a polivalência desse avareense fê-lo dividir seus dias no aprimoramento do ensino superior e na intensa dedicação à causa pública, porquanto sucessivamente cuidou das finanças paulistas, administrou a maior cidade da América Latina e, como legislador, representou São Paulo no Senado da República.
Catedrático de química, advogado, filósofo e reitor da USP
Nomeado professor catedrático de química toxicológica e bromatológica da USP, na interventoria de Adhemar de Barros, Lineu Prestes assumiu em 1938 a diretoria da Faculdade de Farmácia e Odontologia da USP.
Foi também diretor do serviço de química do Departamento de Lepra e chefe da secretaria do Laboratório Estadual de Análises Químicas da Inspetoria de Nutrição. Pertenceu ainda à Sociedade de Farmácia e Química, à Sociedade Brasileira de Farmacêutica e à Academia Nacional de Farmácia.
Respeitado por sua vasta cultura, em 1947 o avareense foi escolhido para reitor da Universidade de São Paulo. Reformou então a estrutura administrativa da USP, criou o novo regimento e instalou as Faculdades de Ciências Econômicas e Administrativas e de Arquitetura e Urbanismo.
Empreendedor, Lineu fundou o primeiro curso superior de Engenharia Sanitária na Faculdade de Saúde Pública, ampliou a Cidade Universitária e construiu os edifícios do Betatron do Laboratório de Alta Tensão e do Instituto de Eletrotécnica e Energia. Ao deixar a reitoria, após dois anos de intenso trabalho, foi agraciado com o título de “doutor honoris causa”. (GJ)
Senador, secretário da Fazenda e prefeito de São Paulo
A passagem de Lineu Prestes pela gestão pública começou em 1949, quando desempenhou por pouco tempo o cargo de secretário da Fazenda do Estado, na gestão de Ademar de Barros (1901-1969).
No ano seguinte, a 28 de fevereiro de 1950, tornou-se prefeito nomeado de São Paulo por 11 meses. Como era ademarista, o seu mandato foi alvo de críticas por parte de jovens vereadores oposicionistas, dentre os quais, Jânio Quadros e Franco Montoro, ambos ainda no início da carreira política.
Em março de 1950, Lineu promulgou a Lei n° 3.853 que autorizava a instalação de bibliotecas infantis em bairros da capital, certamente influenciado por seu chefe de gabinete, o poeta e ensaísta Guilherme de Almeida (1890-1969).
Nesse ínterim, em outubro do mesmo ano, o prefeito candidatou-se e elegeu-se suplente do senador paulista César Lacerda de Vergueiro, tendo recebido mais de 630 mil votos.
No fim de janeiro de 1951, ao deixar a prefeitura, Lineu tornou-se membro do Conselho Superior das Caixas Econômicas Federais, onde permaneceria até 1958. Com a morte de Vergueiro em janeiro de 1957, ele ocupou uma cadeira no elegante Palácio Monroe, no Rio, onde funcionava o Senado Federal.
A atuação parlamentar do doutor Lineu foi de enorme importância para a profissão farmacêutica. Até hoje são sensíveis os reflexos de três leis de sua autoria tidas como essenciais para o ensino e o exercício do ofício no Brasil: a reforma do ensino farmacêutico; a autonomia das faculdades de Farmácia; e a obrigatoriedade de presença dos farmacêuticos na farmácia.
O primeiro senador avareense (o segundo seria Danton Jobim, na década seguinte) faleceu na madrugada de 20 de agosto de 1958, aos 60 anos. Era casado com Iracema Prestes, com quem teve Sérgio, seu filho único. Foi sepultado no Cemitério da Consolação, em São Paulo.
Atualmente Lineu Prestes dá nome em Avaré a uma rua importante, enquanto na capital uma importante avenida da Cidade Universitária, no Butantã, e uma escola municipal no bairro de Santo Amaro, lembram a notável figura desse político e educador polivalente. (GJ)
À direita, a escola e a avenida que levam o nome de Lineu Prestes, que aparece nesse retrato, à direita, na galeria dos reitores da Universidade de São Paulo