Médicos do plantão de retaguarda fazem paralisação do atendimento em Avaré
Em carta, eles reclamam de atraso dos repasses da Prefeitura; somente casos de urgência e emergência estão sendo atendidos
Da Redação
Desde terça-feira, 20, cerca de 40 médicos de 9 especialidades que atendem o município pela retaguarda da Santa Casa de Misericórdia de Avaré paralisaram o atendimento por falta de pagamentos por parte da Prefeitura. De acordo com uma fonte ouvida pela Comarca, apenas casos de urgência e emergência são atendidos.
Ainda segundo o apurado, a Santa Casa não teria efetuado o pagamento dos profissionais porque a Prefeitura de Avaré não realizou o repasse de verbas enviadas pelos governos federal e estadual, referentes aos atendimentos do SUS.
O Hospital possui um convênio com a Prefeitura de Avaré, que é responsável por repassar R$ 451 mil por mês para que a Santa Casa organize uma escala para a prestação de serviços hospitalares, ambulatoriais e técnicos profissionais de assistência à saúde.
O contrato prevê atendimento em especialidades como cirurgia-geral, clínica médica, ginecologia, obstetrícia, ortopedia e traumatologia, angiologia e cirurgia vascular, pediatria, berçário, neurocirurgia e neurologia clínica, cardiologia e urologia.
ATRASO – No entanto, atrasos nos repasses de agosto e setembro resultaram na suspensão dos pagamentos aos profissionais, que interromperam as atividades até que a situação seja regularizada.
O atraso foi confirmado pela secretária de Saúde Vanda Nassif. Ela afirmou, no entanto, que apenas o mês de agosto, cujo vencimento foi em setembro, está em atraso, uma vez que o referente a setembro deve ser saldado em outubro.
A interrupção afeta pacientes de 17 municípios, uma vez que Avaré atende regionalmente, como referência. Em coletiva promovida na quarta-feira, 21, o prefeito Poio Novaes acabou revelando que o pagamento dos plantões do Pronto Socorro Municipal está em dia, o que estaria causando “desconforto” nos médicos do plantão de retaguarda.
PROBLEMA ANUNCIADO – Os médicos da retaguarda são responsáveis pela Central de Regulação da Oferta de Serviços de Saúde (Cross). Com a greve, não é possível fazer encaminhamento de pacientes por meio da Cross, exceto em casos de urgência e emergência.
Mas apesar de ter pego a população de surpresa, a paralisação já havia sido anunciada pelos médicos da Santa Casa no início de outubro, quando um documento, revelando os problemas da classe, foi entregue ao provedor da entidade, Arnaldo Galo, e ao vice-provedor, Miguel Chibani Bakr.
O ofício foi assinado pelos responsáveis pelos setores UTI, Cardiologia, Anestesiologia, Urologia, Diretoria Técnica e Clínica Médica, Ginecologia e Obstetrícia, Neurocirurgia, Ortopedia, Cirurgia Geral, Diretoria Clínica, Cirurgia Vascular, Neurologia e Pediatria
A carta foi entregue no dia 8 de outubro e os médicos da Santa Casa deram um prazo de 10 dias, ou seja, até 18 de outubro, para que a Prefeitura de Avaré e a Central de Vagas se posicionassem para que a suspensão nos atendimentos fosse reavaliada.
Na carta, os médicos afirmam que a decisão pela paralisação foi tomada durante reunião com o corpo clínico, realizada em 5 de outubro. De acordo com o documento, a paralisação teve duas motivações, sendo “os atrasos constantes no repasse de verbas pela Prefeitura para pagamento dos plantonistas” uma delas.
“MOVIMENTO DE SAÍDA” – Também foi apontada como motivação a sobrecarga da Santa Casa, que teria uma demanda muito grande de pacientes encaminhados pela Cross. “A vinda do paciente regulado com ‘Vaga Zero’ obriga o plantonista a realizar o atendimento sem estrutura física nem humana adequada, acima da capacidade do serviço, podendo causar grandes danos ao paciente”, destacam os médicos.
A carta, que também foi encaminhada ao Ministério Público e à Direção Regional de Saúde (DIR), também destacou que a situação gerada pelos motivos já citados estaria “criando um movimento de saída de plantonistas”, o que acabaria resultando na suspensão de todo o serviço de retaguarda “por impossibilidade de composição escala de plantonistas”. A medida também foi apontada pelos profissionais como forma de “preservar o atendimento de urgência e emergência”. O documento ainda destaca que a “suspensão de atendimento tem prazo indeterminado de vigência”.
OUTRO LADO – Em nota, a Prefeitura afirmou que o montante no valor de R$ 451 mil, referente ao mês de agosto e que continua em atraso, deve ser repassado à entidade até o fim do mês de outubro. A nota ainda pondera que “como é de conhecimento de todos, o município teve seu fluxo de caixa afetado em razão de queda nos repasses federais e estaduais. Ainda assim, serviços de saúde são prioritários nas ordens de pagamento da Prefeitura”.