DestaquePolíticaPresidente da Câmara, Flávio Zandoná, concede entrevista e fala das polêmicas nos 200 dias da sua gestão

O vereador do Cidadania falou com exclusividade ao Jornal A Comarca e comentou sobre as polêmicas envolvendo o parlamento avareense e os vereadores da situação e da oposição
A Comarca27 de julho de 202128 min

A COMARCA – A eleição de Vossa Excelência à presidência precisou dos votos da base do prefeito, e isso automaticamente provocou uma reviravolta em seu posicionamento como vereador da oposição. Qual a justificativa que V.Exª. dá a seus eleitores que sempre viram seu trabalho como ferrenho opositor ao prefeito durante 4 anos, e que agora atua como fiel da balança nas decisões favoráveis ao Executivo?

FLÁVIO ZANDONÁ – Desde o início da campanha sempre deixei claro ao grupo que apoiei que, se eleito, iria me candidatar à presidência da câmara, nunca foi uma novidade para ninguém. Depois da eleição, já eleito, percebi que as negociações já começaram em torno do nome da vereadora Adalgisa. Em nenhum momento fui chamado para uma conversa pelos 6 vereadores que votaram nela. Eles simplesmente me ignoraram e depois que fui acolhido por outro grupo, esse que me elegeu, passaram a gritar aos quatro cantos que foram traídos. Traído fui eu, que fiz um acordo com todos antes da eleição, e depois fui ignorado, como se ninguém tivesse concordado, empenhado a palavra. Aos meus eleitores respondo com o meu trabalho. Hoje tenho um trânsito bom com o Executivo, existe o diálogo e o consenso que antes não existia, e posso assegurar que isso não prejudica meu trabalho como vereador em prol da população, muito pelo contrário.

A COMARCA – Ao longo desses 200 dias a frente da Câmara, muitas foram as polêmicas envolvendo decisões tomadas pela atual Mesa Diretora e que V.Exª., como presidente, poderia ter se posicionado de forma mais democrática dando oportunidade para que a bancada de oposição também participasse das mudanças. O que tem dizer sobre isso?

FLÁVIO ZANDONÁ – Existem determinadas decisões e alterações de lei que são necessárias, e se a Mesa resolve por bem fazer um estudo e alterar algumas delas, está apenas exercendo o seu direito. A democracia é exercida em todo e qualquer Legislativo e em Avaré não é diferente. Porém, é natural que toda Mesa Diretora queira fazer as alterações que acham necessárias e isso ocorreu não somente nesta, mas em outras Mesas que passaram pela câmara.

A COMARCA – As alterações promovidas no Regimento Interno da Câmara foram de certa forma radicais e bateram de frente com a Lei Orgânica Municipal. Essas mudanças não deveriam passar por consulta popular, pois da forma como foram aprovadas elas dão a impressão de terem sido arbitrárias e impostas? (horário das sessões, tribuna livre, palavra livre e demais mudanças)

FLÁVIO ZANDONÁ – Como já te disse, mudanças são procedimentos naturais em uma Casa Legislativa e não vejo necessidade de consulta popular, até porque já está no nome, Regimento Interno, ou seja, é uma lei que regulamenta os trabalhos internos e precisa atender às necessidades internas da Casa. Temos cerca de 50 sessões ordinárias por ano e algumas extraordinárias. Na grande maioria dessas sessões dá pra se contar nos dedos de uma mão a quantidade de pessoas que frequentam regularmente a câmara. Os casos de lotação do plenário foram isolados, pouquíssimos e somente em votação de projetos polêmicos. Estão fazendo um cavalo de batalha, criando uma polêmica sem razão, só pra ter o que falar mesmo. Se você perguntar para qualquer vereador de outros mandatos qual a frequência de público na câmara, alguns vão até falar os nomes das pessoas que sempre estavam presentes, porque são pouquíssimas.

A COMARCA – O título de Cidadão Avareense ao radialista e ex-vereador Rodivaldo Rípoli foi proposto antes das alterações no Regimento Interno, e se tivesse ido a Plenário certamente não seria aprovado. A iniciativa da outorga é mesmo de toda a Mesa Diretora? Qual o real propósito dessa iniciativa, tendo em vista que houve grande repercussão negativa entre a população, principalmente pelo fato de Vossa Excelência ter apresentado na gestão passada uma moção de repúdio ao radialista e na votação do projeto de decreto o seu voto foi decisivo?

FLÁVIO ZANDONÁ – O projeto foi um consenso sim dos membros da Mesa que não optou por dar o título ao político, mas sim ao cidadão Ripoli que faz um grande trabalho de ajuda à população carente da nossa cidade e o passado, já passou, não tenho o costume de andar olhando no retrovisor. E não vejo tanta repercussão negativa assim, pois, temos que ter bom senso, se a maioria da população fosse tão contra assim, seu programa de rádio já teria saído do ar, concorda? Tudo depende da forma que olhamos para uma situação. Eu enxergo que a câmara homenageou um dos políticos mais bem votados de sua história, um cidadão que do seu jeito procura ajudar a população carente e que se errou, vem pagando pelo seu erro, afinal é humano como qualquer um de nós. Já pensou se nós fôssemos eternamente acusados e condenados por um único erro? Como cristão e praticante, trago sempre os ensinamentos do Cristo, afinal, quem nunca tiver pecado, que atire a primeira pedra.

A COMARCA – As atitudes de Vossa Excelência como presidente provocaram até mesmo descontentamento no Diretório Municipal do partido, o Cidadania, que chegou, inclusive, a desligar a presidente Isabel Cardoso a qual, todos sabem, é bastante ligada a sua pessoa e ocupa cargo de confiança na prefeitura como secretária da Cultura. O que tem a dizer sobre a saída dela do partido e da fala do atual presidente com relação ao seu comportamento na Câmara?

FLÁVIO ZANDONÁ – Em relação à Isabel não posso responder por ela. Acredito que ela, como política experiente que é, tomou suas decisões de maneira sábia e buscou o seu caminho. Temos sim uma ligação política, aliás, eu entrei na política pela mão da Isabel, que acreditou no meu potencial e no meu trabalho e que graças a Deus essa parceria deu bons resultados. Fui reeleito vereador pelo Cidadania que tinha como presidente na época a Isabel Cardoso. E hoje não faço e nunca fiz nada contra o estatuto do partido. De acordo com o artigo 17, parágrafo 6º, eu como líder da Bancada na câmara de Avaré, tenho que ter meu lugar assegurado no Diretório, e de acordo com o mesmo artigo, o líder da bancada está acima da comissão provisória, porque o partido hoje não tem Diretório constituído. Eu nunca fui oficialmente notificado pelo partido, a não ser por uma ou outra mensagem de Whats App. Quanto ao meu posicionamento na câmara, venho seguindo à risca o estatuto do partido. Veja o que diz o parágrafo 2º do artigo 25: § 2º – O partido, em reunião conjunta da Bancada com a Comissão Executiva, definirá seu posicionamento acerca  dos  projetos  em  tramitação  na  respectiva  Casa  Legislativa,  sem caráter impositivo ou fechamento de questão.Você pode ver que o próprio estatuto do partido não impõe nada aos seus eleitos, não sei porque tanto barulho, tanta polêmica em volta de um assunto que o estatuto do partido já mostra o que é determinado.

A COMARCA – A viagem da vereadora e 2ª secretária Carla Flores à Rússia também não foi vista como satisfatória em face das inúmeras críticas registradas em redes sociais. Diante da atual situação de pandemia, essa viagem foi realmente relevante, ou seja, ela trouxe ou poderá trazer benefícios ao município?

FLÁVIO ZANDONÁ – A função do vereador é, além de propor leis que venham a melhorar a vida dos cidadãos e fazer com que seus direitos tenham força, é também colaborar com o executivo unindo forças para que a cidade venha a crescer, evoluir, gerar mais empregos, aumentar a renda das famílias. Eu enxergo a viagem da vereadora como uma forma de ir buscar essas melhorias para o município. A cidade perdeu mais de 5000 empregos com a pandemia e é preciso que a gente encontre formas de pelo menos tentar diminuir essa taxa de desemprego. A vereadora fez muitos contatos com investidores através do BRICS. Eu acredito que é exatamente nesse momento difícil que o mundo vem atravessando de pandemia, de desemprego, é que a câmara deve ir em busca de soluções, de ajuda à população, como as leis que aprovamos em prol do nosso comércio, que só não teve mais desemprego porque nós fomos à luta e aprovamos leis que puderam garantir o trabalho dos comerciantes e comerciários na nossa cidade.

A COMARCA – Alguns gastos da Câmara também são estão sendo alvo de questionamentos, como por exemplo, a aquisição de notebooks e smartphones anunciados recentemente. O que V.Exª. tem a dizer?

FLÁVIO ZANDONÁ – Na verdade esses gastos não existem. O que foi publicado foi um edital de registro de preço para possível futura aquisição de computadores e smartphones pela câmara. A administração pública exige do gestor o mínimo de conhecimento e ela tem algumas regras que não existem na iniciativa privada. Por exemplo, o patrimônio de qualquer órgão público não deve sofrer depreciação porque isso pode não ser bem visto pelo Tribunal de Contas. A câmara já recebe o duodécimo para que seja investido nela mesma e, durante esses meses como presidente, tenho estudado muito e aprendido como funciona a administração pública. As pessoas às vezes falam sem conhecer de verdade. Nós temos exemplos nos últimos anos aqui na câmara. O vereador Toninho teve parecer desfavorável do Ministério Público de Contas em suas duas contas porque devolveu muito dinheiro à prefeitura, e o vereador Barreto também teve esse apontamento. Não que eles tenham feito algo de errado, muito pelo contrário. Mas a lei da administração pública entende que o dinheiro da câmara deve ser investido na câmara e todo presidente deve cuidar do patrimônio para que ele não seja depreciado. Pra você ter uma ideia, a câmara hoje tem a possibilidade por lei de gastar 70% da sua receita com despesa de pessoal, incluindo os vereadores. Como é isso? Para que a população entenda, a câmara pode gastar até 6% da Receita Corrente Líquida do município com pessoal, e a minha gestão é a mais baixa dos últimos anos, porque ficou em 1,12%, em relação a 1,27% em 2020 e 1,59% em 2017. E se formos comparar em 2016 foi 1,75% e 2015 1,81%. Então não vejo onde estamos gastando de forma exagerada, estamos fazendo uma gestão, se for comparar pelos números, mais enxuta que as outras. Os números estão no portal da transparência e no site da câmara e a população pode acompanhar pela última audiência pública da gestão fiscal.

A COMARCA – O Tribunal de Contas do Estado de São Pauloemitiu alerta à Câmara de Avaré sobre entrega intempestiva de documentos no mês de abril. Essa eventual irregularidade na Lei de Responsabilidade Fiscal já foi sanada pelo Legislativo?

FLÁVIO ZANDONÁ – Os alertas do Tribunal de Contas são a coisa mais normal durante uma gestão,já está no nome, alerta, não é apontamento nem penalidade. Para a entrega de documentos e informações dependemos de sistemas que funcionam através da internet que pode apresentar falhas. Mas essas falhas são justificáveis e é o que foi feito. Já justificamos que fomos impedidos de enviar a informação no tempo certo. Tudo através de documentos e provas que confirmam tudo.

A COMARCA – É notório que o Executivo vem ignorando as proposituras (requerimentos e indicações) de autoria dos vereadores da oposição. Na gestão passada o problema foi, inclusive, parar na justiça que por sua vez desobrigou o Chefe do Executivo de ter que responder aos documentos “dentro do prazo regimental de 15 dias”, mas nada falou sobre “não ter que respondê-los de forma alguma”. Diante disso, se conclui que não há harmonia e nem respeito entre dois poderes que deveriam se unir e trabalhar em prol da população. O que tem a dizer sobre esse assunto?

FLÁVIO ZANDONÁ – Olha, eu não posso responder pelo executivo, eu respondo pelo legislativo e posso garantir pra você que a parte da câmara é feita, os requerimentos e as indicações são todas encaminhadas e essa parte de documentação está em dia. Concordo com você que o legislativo e o executivo tem que se unir e trabalhar em prol da população porque a união faz a força. Agora, compete a cada vereador ter o seu posicionamento e ver até quando o seu trabalho vem de verdade sendo feito em prol do município, porque acredito que quando feito com união o trabalho rende mais frutos.

A COMARCA – Essa semana você completou 200 dias a frente da Câmara de Avaré. Como analisa sua gestão ao longo desses seis primeiros meses, já que existem pequenos movimentos pedindo a sua saída do cargo que pode continuar em suas mãos justamente por uma alteração promovida no Regimento Interno?

FLÁVIO ZANDONÁ – Posso te dizer que nesses dias todos eu aprendi muito. Desde o primeiro dia na presidência venho me empenhando em entender tudo dentro da câmara, como funciona, porque eu já fui vereador nos últimos 4 anos, mas ser presidente é diferente, a responsabilidade é muito maior, porque além da parte política, a gente tem que fazer uma boa gestão. E isso venho me esforçando muito e temos uma equipe muito profissional que me auxilia o tempo todo. Todos os funcionários da câmara são pessoas responsáveis e não medem esforços para que tudo caminhe de maneira satisfatória. Em relação às críticas, eu aprendi na vida pública que todo posicionamento deve ser respeitado. E o que vejo em relação à minha pessoa é um movimento de um grupo de pessoas que inconformados com sucessivas derrotas políticas nos últimos anos e o fato de eu ter sido eleito presidente da câmara me escolheram como bode expiatório da vez. Pra ser sincero, vejo essas críticas, acompanho e são sempre as mesmas pessoas, do mesmo grupo que falam de mim, mas não apontam alguma coisa que tenha cometido que tenha prejudicado alguém. Olha, fiz várias leis nesse início de mandato, trouxe várias emendas, recursos para a cidade, como para a saúde, assistência social. Fui à luta em prol do comércio, apresentando leis polêmicas, mas que ajudaram que muitos estabelecimentos, contribuíram para manter o emprego de centenas de pais de família e isso me faz saber que estou no caminho certo, porque estou cumprindo com o meu papel. E não penso e nunca pensei em desistir, não, pelo contrário, eu vivo um momento de cada vez e essas críticas eu respondo com meu trabalho. O que tenho certeza é que ninguém chuta cachorro morto, talvez essas pessoas, esse grupo que se uniu para me criticar tenham medo de que eu vá em busca de outros cargos na política. Como eu disse, vivo um momento de cada vez, tenho a minha consciência tranquila, sei que estou dando o meu melhor como presidente da câmara e respeito o posicionamento de qualquer um, nós vivemos em uma democracia. Falam tanto hoje na televisão, nas redes sociais em respeitar posicionamento, escolhas, e vejo nas pessoas que me criticam uma dificuldade em respeitar o meu posicionamento, mas mesmo assim, como já falei, sou cristão e aprendi, através da minha religião que todos merecem respeito e que nunca devemos julgar porque algum dia também seremos julgados. Então, eu não faço e nem desejo para os outros, o que não quero para mim.

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