Acontecendo“Retorno à Procuradoria representa o fechamento de um ciclo”, afirma Rosângela Paulucci

A Comarca27 de dezembro de 201617 min

“Retorno à Procuradoria representa o fechamento de um ciclo”, afirma Rosângela Paulucci

Peemedebista, que deixa Câmara após 15 anos, fala sobre Poio Novaes, Jô Silvestre e classifica como “improdutiva” a atuação do Legislativo na atual gestão

 

Da Redação

 

Em meados dos anos 70, uma avareense de 17 anos desceu de um ônibus numa rodoviária em São Paulo. Além da malinha, levava consigo um bilhete que a orientava a seguir pela Avenida Duque de Caxias, virar a São João e, em frente ao cinema, pegar outra condução.

Em seguida, quando já vivia num pensionato, a filha de um pintor de paredes e de uma dona de casa finalmente ingressaria na faculdade, embora tivesse que frequentar dois serviços para ajudar a bancar os estudos.

Décadas depois, já de volta à terra natal, a advogada Rosângela Paulucci está novamente de malas prontas para enfrentar um novo desafio, embora dessa vez o itinerário seja conhecido.

Após 15 anos, a peemedebista deixa o Legislativo para retornar ao cargo de procuradora do município, função que assumiu via concurso público em 1993 e da qual havia se afastado em 2001 para assumir a suplência na Câmara de Avaré, de onde nunca mais saiu.

A advogada formada pela PUC de São Paulo chegou ao Legislativo depois que Rosana Paulucci – titular da cadeira – foi nomeada secretária de Esportes pelo então prefeito Wagner Bruno.

Em 2004, conquistou a própria vaga após obter quase 800 votos, praticamente o dobro da votação conquistada no primeiro pleito. Na legislatura seguinte, Rosângela novamente dobrou a votação, chegando a 1715 votos.

Eleita mais uma vez em 2012, a peemedebista manteve o costume de superar a votação anterior, obtendo 1984 votos, superando todos os outros concorrentes.

Embora o retorno ao Executivo tenha sido apontado como uma etapa necessária para a aposentadoria, Rosângela Paulucci afirma que a proposta representa ainda o fechamento de um ciclo. “Nada é eterno. Eu vejo a necessidade de uma reciclagem pessoal e sinto que precisamos de novas lideranças. Você não pode se eternizar no cargo. É fundamental que essa renovação aconteça e também tenho que fechar esse ciclo”, afirmou em entrevista à Comarca.

Além do papel de legisladora, próprio da vereança, Rosângela considera relevante em sua passagem pelo órgão a atuação em Comissões Parlamentares de Inquérito (CPI), Comissões Processantes (CP) e sindicâncias. “Tive participação bastante significativa na área de procedimentos administrativos e processos investigativos”, ressalta a vereadora, que atribui o arcabouço ético normalmente associado a sua figura à “formação familiar, disposição pessoal, proteção de Deus, formação jurídica e à contribuição das pessoas” que a cercam.

Sua personalidade é elogiada até por colegas que integram a oposição a Poio Novaes, do qual a vereadora foi líder no Legislativo durante a gestão 2013/2016.

Embora critique a função de defensora do prefeito, Denilson Ziroldo afirma que sempre teve um bom diálogo com a peemedebista. “Rosângela cumpriu a função que é defender o governo e fechou os olhos para verdade que hoje está estampada em todas as páginas dos jornais. Já como vereadora, quem tem que analisar são os eleitores. Como sempre foi reeleita, acho que foi muito bem avaliada. Portanto, se olharmos os resultados das eleições, foi uma boa vereadora”, pondera. “Pessoalmente sempre fomos amigos, conversávamos sobre tudo, nunca tivemos problemas pessoais e sempre nos respeitamos muito na vida aqui e fora da política”, concluiu o presidente da Casa.

“IMPRODUTIVIDADE” – Rosângela Paulucci também não poupa críticas à atual legislatura, embora faça parte dela. A parlamentar questiona a criação de proposituras com o intuito de – segundo ela – apenas engrossar estatísticas.

“Estavam preocupadas com quantidade: faltou qualidade. Eu nunca havia visto tanto “Dia do Rock”, “Dia do DeMolay”, dia daquilo. Precisaríamos de 800 dias no ano para dar conta de todas essas datas. Eu nunca vi tanta improdutividade. E me coloco entre os 13 vereadores. Eu tenho consciência do que estou dizendo e tenho notado de que esse cenário piora a cada legislatura. Olha com que acidez eu saio”, reflete.

Apesar da acidez, Rosângela Paulucci elege o petista Francisco Barreto como o representante do mandato que mereceria destaque na legislatura que termina em 31 de dezembro. “Barreto foi efetivamente um grande vereador”, resume a avareense, embora considere negativo o prognóstico, uma vez que o Parlamento é composto por outros 12 membros.

“OPOSIÇÃO IRRESPONSÁVEL” – Na avaliação da peemebista, Poio Novaes enfrentou uma oposição irresponsável. “Não se pensou na governabilidade, e sim em se tornar governador. Não foi uma oposição com o objetivo de fazer com que os problemas fossem solucionados”, disse a vereadora. Ela aponta como exemplo a CPI do Cascalho, procedimento instaurado no início do governo Poio que acabou dificultando a manutenção de estradas rurais e gerou protesto entre produtores.

BOM TRÂNSITO – Paulucci ressalva, contudo, que teve “bom trânsito” com os presidentes Bruna Silvestre (2013/2014) e Denilson Ziroldo (2015/2016), ambos ferrenhos opositores da administração defendida por ela.

“Não tive embate enquanto líder do prefeito, quer na presidência de Bruna ou de Denilson. Não tive dificuldades para sugerir apontamentos, a retirada de projetos ou convocação de audiência pública, por exemplo. Eu tive acessibilidade entre ambos. E bom trânsito com todos os colegas, aliás. Nesse aspecto não foi difícil”, revela.

POIO – O próprio Poio Novaes, por sua vez, não escapa do radar da peemedebista. Embora tenha classificado o prefeito como uma “pessoa pautada pela ética e cheia de boas intenções”, Rosângela afirma que o prefeito “pecou” por não ter mudado o secretariado e tomado com antecedência medidas com o objetivo de sanear as finanças públicas.

“Eu não ficaria com muitos dos secretários até o final do primeiro ano. Teve gente boa, que vestia a camisa, mas uma parte não faria falta alguma. Além disso, ele tomou tarde as medidas amargas e necessárias. No início de 2016, esse cenário (de queda de receitas) já estava pintado no quadro, faltava apenas colocá-lo na parede”, avalia a vereadora, embora tenha defendido que a administração de Novaes obteve avanços positivos na educação e saúde.

Rosângela atribui a leitura equivocada do chefe do Executivo à característica de líder centralizador. “Quando o secretário não mostrava resultado, Poio chamava para si essa obrigação. Ele, enquanto prefeito, deveria ter feito o lado político e apenas gerenciado ou fiscalizado o lado administrativo. Esse é o meu ponto de vista. Além do azar de estar ao lado de pessoas que não vestiram a camisa, ele enfrentou o pior momento econômico dos últimos tempos”, reitera a vereadora.

JÔ SILVESTRE – Rosângela Paulucci arrisca ainda um prognóstico sobre o mandato do prefeito Jô Silvestre. A vereadora e o pai do novo mandatário, o ex-prefeito Joselyr Silvestre, estiveram em campos diametralmente opostos na recente política avareense, período em que a peemedebista se notabilizou pela oposição ao ex-chefe do Executivo que agora se encontra preso.

Paulucci nega, contudo, ter praticado oposição irresponsável e afirmou que chegou a conversar com Joselyr sobre procedimentos considerados equivocados. “Isso não ocorreu nenhuma vez neste governo”, ressalta.

A vereadora confidenciou ainda ter desejado uma boa administração a Jô durante a solenidade de diplomação dos eleitos em Avaré. “Olhando nos seus olhos, eu desejei que ele tenha sucesso no seu governo. Nós estamos precisando que isso aconteça. Mas serão anos dificílimos. Eu acredito que é o governante que vai assumir a Prefeitura no momento mais difícil. Embora não seja culpa do Poio, nós temos uma máquina pública inchada, um funcionalismo que ganha mal, falta de dinheiro, não há previsão de repasse de verbas e há dívidas impagáveis. O sucesso do novo prefeito vai depender da sua criatividade e a de quem estiver com ele. Porque todos os outros fatores serão adversos”, vaticina.

NOVA CÂMARA – Sobre o órgão em que atuou por quase duas décadas, a advogada classificou como positiva a renovação registrada após as últimas eleições. “É um grupo bastante heterogêneo e representativo de vários segmentos da sociedade. Nós temos um representante dos professores (a vereadora eleita Adalgiza Ward). Quando nós tivemos isso no passado? Espero que a nova Câmara busque governabilidade, que não seja oposição por oposição, como foi no caso de Poio Novaes”.

PLANOS – Fora do Legislativo, Rosângela revela que pretende atuar em ações sociais, viajar, cuidar da sua horta e cultivar o orquidário que mantém em sua propriedade, além de dar continuidade à paixão – herdada do pai – de conceber plantas de imóveis e “mexer com construção”.

Por conta do período fora Procuradoria do município, a advogada ingressou numa pós-graduação com o objetivo de renovar os conhecimentos em direito público.

Ainda no campo da política, Paulucci avalia que a crise institucional pela qual o país passa irá gerar mudanças importantes na administração pública e não nega interesse em participar de uma nova política que, segundo ela, deve surgir no futuro em decorrência dos acontecimentos recentes.

Mas faz mistério em relação a prazos para um eventual retorno à vida pública. “Eu nunca me afasto daquilo que gosto. E amo política”, conclui, com o sorriso de quem não precisa dizer mais nada.

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