AcontecendoTexto do Turismo utiliza expressão preconceituosa sobre colonização em Avaré

A Comarca30 de agosto de 20148 min

Pólo Cuesta
Texto do Turismo utiliza expressão preconceituosa sobre colonização em Avaré

Ao listar as colônias que contribuíram para a formação da sociedade avareense, capítulo sobre a história da cidade registra “…Árabes, Japoneses, Pretos e Suíços”

Da Redação

Rolo polo cuesta
Página sobre Avaré utiliza expressão preconceituosa para se referir a população negra

Indignação. É esse o sentimento que manifesta o advogado e jornalista Dojival Vieira com relação a uma expressão preconceituosa que a Secretaria de Turismo utilizou para se referir aos descendentes de africanos, no trecho em que menciona os colonizadores históricos de Avaré, no site do Pólo Cuesta.

O trecho é o seguinte: “Dentre os imigrantes que formaram a sociedade avareense, foi (sic) os integrantes da colônia Portuguesa, que estão entre os de maior número. Também contribuíram para o desenvolvimento local: Espanhóis, Italianos, Árabes, Japoneses, Pretos e Suíços” (grifo nosso).

A sentença faz parte de um texto com incorreções históricas e erros de português (ver infográfico) publicado na página reservada para Avaré dentro do site do Pólo Cuesta. (acesse o texto original pelo link: www.polocuesta.com.br/portal/cidades/avare/a-cidade.htm).

Palestrante e consultor de políticas para a valorização da diversidade, com passagem pela Unesco, Dojival afirma que a utilização do termo “Preto” é uma “ignorância, e como qualquer ignorância, é a base na qual o racismo se ergue”.

Advogado e jornalista Dojival Vieira afirma que a utilização do termo “Preto” é uma “ignorância, e como qualquer ignorância, é a base na qual o racismo se ergue”
Advogado e jornalista Dojival Vieira afirma que a utilização do termo “Preto” é uma “ignorância, e como qualquer ignorância, é a base na qual o racismo se ergue”

DEPRECIAÇÃO – Ainda de acordo com o jornalista, “esse texto contribui para a manutenção da cultura racista”. Prossegue o jornalista: “Deveriam tomar cuidado para não contribuir com a cultura racista que é baseada na ignorância, inclusive sobre a própria história, contribuindo para manter a invisibilidade da população negra não apenas em Avaré, mas em todo Estado e no País”.

Para Dojival, tal expressão “deprecia a verdadeira contribuição que a população negra deu para Avaré, reforçando e fortalecendo o racismo, a cultura racista. Quem escreveu esse texto não é racista, mas é um ignorante, no sentido de não conhecer a própria historia, da própria cidade e também do Brasil”.

Como advogado, Dojival tem atuação destacada na defesa de vítimas da discriminação racial. Criou e edita há 8 anos a Afropress (Agência Afroétnica de Notícias), a única focada na temática étnicorracial brasileira com produção de conteúdo jornalístico. Sua indignação se baseia em anos de militância contra as práticas racistas e discriminatórias.

“Se o autor do texto ou o secretário de Turismo comete uma aberração como esta, propagandeia a sua ignorância. Passou uma péssima imagem de Avaré. Espero que o senhor prefeito e o secretário de Turismo revejam essa postura, e parem de projetar essa ignorância para fora da cidade. A própria Secretaria deveria promover uma palestra sobre o quão grande foi a contribuição dos negros na construção de Avaré”.

Cópia de Info Polo Cuesta

INJÚRIA – O racismo, conforme previsto na Constituição Federal como “crime inafiançável e imprescritível”, está descrito na Lei nº 7.716, de 5 de janeiro de 1989, que define os crimes resultantes de preconceito de raça ou de cor. As condutas mencionadas nesta Lei pressupõe, sempre, uma espécie de segregação em função da raça ou da cor.

Assim, por exemplo, chamar alguém de “turco”, “judeu”, “preto”, amarelo, entre outros, são condutas que se amoldam à descrição legal do artigo 140, § 3º do Código Penal, que é uma espécie de injúria, ou seja, de um xingamento consistente na utilização de elementos referentes a raça, cor, etnia, religião ou origem. É a denominada injúria qualificada.

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